Todas as estradas nos afastam de Roma

Para quem não conhece Roma, a cidade é circundada por uma auto-estrada tangencial, sem pedágio, chamada de “Grande Raccordo Anulare” (GRA) ou simplesmene “Raccordo”, como dizem os romanos. É um verdadeiro círculo (por isso anular) ao redor da cidade, com várias saídas por todo o percurso, nas quais é possível dirigir-se para o centro da cidade ou para fora do anel. É uma coisa cômoda, se levarmos em consideração que Roma tem um dos trânsitos mais caóticos do mundo e atravessar a cidade de carro é tarefa quase impossível, principalmente em certas horas dos dias feriais.

Dito isso, vamos aos fatos.

Claudio já me disse muitas vezes que gosta muito de dirigir. Talvez por isso (inconscientemente) erre a estrada para ficar mais tempo dentro do carro. Vai-se saber! Quem é que pode afirmar que conhece a tão complicada mente humana? O fato é que já é um clássico: todas as vezes que viajamos de carro, não importa se é uma viagem de centenas de quilômetros ou um giro dentro dos limites do Grande Raccordo Anulare, nós nos perdemos.

Da última vez (na verdade, penúltima, porque antes que eu publicasse o post aconteceu de novo, mas já tinha me decidido a contar esse episódio… risos) tínhamos ido visitar um médico amigo dele que trabalha no leste da cidade (nós moramos no sul). Na volta pra casa, no final da tarde, Claudio pegou uma estrada que nos levaria para o Raccordo a fim de evitar o tráfego do centro da cidade e, quando percebeu, estávamos diante dos guichês de uma auto-estrada que conduzia, naturalmente, para longe de Roma. Então ele diminuiu a velocidade, mas ficou alguns segundos sem saber o que fazer. Nesse meio tempo eu vi a indicação para uma cidade chamada Lunghezza e disse:

– Por que você não sai da estrada, fazendo de conta que vai pra Lunghezza, depois faz o retorno, pega a estrada de novo e volta pra Roma?

E ele, começando a rir:

– É o jeito, lá vou eu pagar a auto-estrada. Eu pago, pago, pago e ela ri, ri, ri…

Porque, verdade seja dita, eu me divirto e rio até as lágrimas nessas situações. Depois fico fazendo piada com a cara dele pelo menos por um mês.

Fizemos como eu tinha dito: ele pagou o pedágio de € 1,10 (sorte dele que era pouco, mas já pensou quanto dá no final de um mês?), saiu da estrada, fez o retorno, pagou de novo o pedágio (e eu rindo) e nós voltamos pra casa.

Durante todo o trajeto fizemos piadas com essa história. Eu disse que até o nome da cidade onde fomos parar era perfeito, afinal pra alongar o caminho quer melhor direção que Lunghezza? E ele me respondeu:

– Claro, senão a cidade deveria se chamar “Cortezza”.

Eu ria mais ainda porque quando começamos o trajeto de volta e vi que ele estava fazendo uma estrada diferente daquela que tínhamos feito na ida, disse pra ele prestar atenção e não errar de novo (eu preciso dizer que ele errou a estrada na ida? Parece mentira, mas não estou inventando nem aumentando nada…). Quando mencionei essa observação que tinha feito, ele disse que tinha se distraído conversando comigo, que estava todo relaxado batendo papo e não viu a indicação para o Raccordo. Mais uma prova de que os homens não conseguem fazer duas coisas ao mesmo tempo, enquanto nós mulheres… mas isso é outra história.

Bem, é por essas e outras que aquele ditado precisa ser mudado ou pelo menos atualizado: “Todas as estradas levam a Roma”? Pode até ser, desde que não seja com Claudio ao volante.

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2 Respostas to “Todas as estradas nos afastam de Roma”

  1. Vilma Says:

    MARAVILHSA!!
    Nilva, vc é realmente maravilhosa! Muito bacana essa crônica.
    Vou te mandar por e-mail o endereço da revista seleções para vc enviar pra eles, tá? É publicação na certa!!!
    Boa sorte, minha linda!!!

  2. nilva Says:

    Obrigada, Vilma!
    Tente imaginar quanto eu me diverti escrevendo… Depois Claudio leu e demos grandes risadas juntos. Agora ele quer que eu traduza em italiano pra mostrar pra todos os pacientes dele… Pode?

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