Não, esse título não é um erro gráfico, eu não pretendia escrever a “casa portuguesa”, canção que lembra minha infância, embora naquele tempo nós não tivéssemos muita chance de ouvir música – tínhamos apenas um rádio, herança paterna e que um dia meu irmão mais novo desmontou “pra ver como era por dentro”.
Devo afirmar ainda que esse é um caso verídico, não sou muito afeita a contar piadas de português, não por falso moralismo, é que não me agrada ouvir, entre estrangeiros, piadas de brasileiro, ou entre sulistas as famigeradas piadas de nordestino, de baiano…
Enfim, esse caso se deu quando eu viajava pela primeira vez do Brasil para a Itália com uma escala em Lisboa. Estava curiosa pra ver ainda que fosse uma pequena mostra daquele país de que tantas vezes ouvimos falar nas aulas de história. Desejava ver mais de perto alguns portugueses e descobrir afinal sua inteligência pra desmentir todas as piadas que ouvisse de volta pra casa. Tínhamos pelo menos duas horas de espera até o prósimo vôo com destino a Milão, e eu considerei que era tempo suficiente para essa pesquisa, que não era afinal tão científica assim.
Nossa primeira dificuldade no aeroporto foi encontrar um banheiro. Esqueci de dizer que não estava sozinha, viajava com quatro amigas (sei de alguém que vai dizer que esse esquecimento é ainda orgulho, que preciso trabalhar a humildade…). Pois bem, depois de arrastar nossa bagagem de mão por quase todo o aeroporto, encontramos o banheiro e nos pusemos mais apresentáveis para nossa excursão possível ao que se nos apresentava do velho Portugal.
Uma de minhas amigas já havia ficado encantada com o policial com quem falou no desembarque. Ele, enquanto olhava seu passaporte, aproveitou para fazer-lhe uma pequena entrevista que não era exatamente o que se espera responder num aeroporto… Ela saiu rindo e dizendo que Joaquim era um nome muito bonito. Nós rimos muito das besteiras que ela dizia e dissemos que não se esquecesse de que nós estávamos fora do Brasil, mas que todo mundo ali falava a mesma língua. E recomendamos muito cuidado com os micos – essa minha amiga tem pós-doutorado em micos, mas esta é outra história…
Andamos pelas lojas observando roupas, acessórios, perguntando o preço de tudo e não comprando nada, que afinal um euro estava valendo três reais, não dava pra sair comprando assim. Mas até aí eu achava tudo normal, exceto alguns itens do vestuário feminino expostos nas vitrines das lojas e que eu achei um tanto exagerados nas cores e detalhes chamativos.
Afinal, depois de andar à toa por um bom tempo, decidimos nos sentar numa sala de espera porque não era lá muito agradável ficar andando com aquela bagagem. Mas isso também não foi uma idéia muito boa: a sala tinha um forte cheiro de cigarro e, embora eu não tenha nada contra os fumantes, afinal cada um tem o direito de se maltratar como quiser, eu não suporto cheiro de cigarro nem me agrada a idéia de ficar intoxicando meu corpo. Procurei a área de não fumantes e não encontrei. Então estudei cuidadosamente a sala em todas as direções, porque era bem espaçosa, e como não encontrava mesmo uma área reservada para não fumantes, resolvi me informar com uma das moças que trabalhavam por ali.
Fui em direção ao balcão ainda muito hesitante, porque havia visto muitas placas indicando “zona de fumadores” e muitos cinzeiros espalhados pela sala. Em cada canto da sala havia uma placa daquelas, mas não havia nenhuma de “não fumadores”. Pensei que poderíamos estar na sala errada, mas mudei de idéia por causa das placas. Se fosse uma sala só de fumantes, eles teriam posto o aviso “sala de fumadores” ou algo parecido na entrada e não tantos cartazes espalhados ao redor da sala. Então criei coragem e perguntei à moça que me pareceu a mais simpática:
– Por favor, onde é a área de não fumantes?
Ao que ela me respondeu com um “Ahn?” e uma careta de quem não entendeu bulhufas. Resolvi traduzir:
– Por favor, onde é a “zona de não fumadores”?
“Ah, que vergonha”, pensei ao ver sua expressão. Ela me fez uma cara de quem não acreditava no que eu havia perguntado e me respondeu simplesmente:
– Em todos os lugares onde não há a indicação de zona de fumadores…
Como se aquilo fosse a coisa mais lógica do mundo.