Archive for the ‘Crônicas’ Category

Dos exageros

maio 17, 2010

São muitos os exemplos de sentimentos exagerados, na vida e na arte. Quem não se lembra da confissão do poetinha?

Soneto do amor total

Amo-te tanto, meu amor… não cante
O humano coração com mais verdade…
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade

Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente,
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim muito e amiúde,
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

Quem dá demasiado normalmente recebe pouco. Quando controlamos tudo, cuidamos de todos os detalhes, não deixamos espaço para as surpresas agradáveis com que tanto sonhamos… Uma vez alguém me disse: “Você não deixa as coisas acontecerem…” Foi uma frase dura de ouvir, mas era verdade: eu lhe enchia a vida e com isso não lhe sobrava espaço para que ocupasse, por seu turno, um pouco da minha vida.

O comedimento é uma lição difícil de aprender. Minha avó dizia sabiamente que “tudo demais é sobra”. Drummond confessou em As sem-razões do amor:

Eu te amo porque não amo

bastante ou demais a mim.

 E meu compadre Guimarães, que não me canso de citar, escreveu: “Ajuda-te um pouco menos, para Deus poder te ajudar!”.

Personal friend e por que não posso traduzir o termo para “amigo pessoal”

junho 30, 2009

Depois do personal trainer e do personal stilist, a novidade agora é o personal friend. Segundo o site da revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios, esse é um novo negócio que está surgindo no Brasil, semelhante ao realizado por uma agência japonesa.

Lá na terra do sol nascente, diz outra notícia da mesma revista, um dos agentes da empresa Office Agents vai a festas de casamentos como se fosse um convidado normal, um parente ou amigo, por cerca de R$ 400,00. “Se o agente tiver que cantar ou dançar custa mais R$ 100,00”, continua.

A recessão econômica aumentou ainda mais a popularidade do serviço. Com o desemprego e os trabalhos de meio período aumentando, pessoas têm alugado falsos chefes e colegas de trabalho para ir a festas de casamento. O objetivo? Manter o respeito perante os amigos, segundo Hiroshi Mizutani, que comanda a Office Agents.

O presidente da empresa contou inclusive a história de um noivo que alugou secretamente 30 convidados para fazer o papel de amigos e parentes. Isso porque era seu segundo casamento e ele não queria repetir os convidados da primeira cerimônia.

No Brasil a sessão custa de 50 a 300 reais e o personal friend acompanha o cliente aonde esse desejar, desde shoppings a cinemas, restaurantes ou caminhadas. É claro que, além do preço da sessão, o cliente deve bancar qualquer outra despesa. Um dos profissionais brasileiros conta: “Um dia um cliente me ligou dizendo que estava querendo alguém para tomar um chope”. Pagou R$ 300 para tagarelar com o personal friend por 50 minutos numa mesa de bar.

Onde foram parar aqueles amigos que adorariam tomar um chopinho jogando conversa fora?

É tudo muito estranho! Para mim, o mundo enloqueceu e eu não quero, como diz aquela famosa frase feita, “tornar-me louca para ser sensata”. Prefiro ser louca, ingênua, antiquada, o que for. Mas eu ainda acredito naquele tipo de amizade livre e desinteressada, naquele tipo de amigo que até se ofende quando se fala em dinheiro com ele. Aquele amigo que pode lhe telefonar a qualquer hora sem motivo aparente ou aparecer na sua casa sem ter de telefonar antes para avisar que vem. Em suma, aquele amigo de antigamente.

Só que construir uma amizade assim leva tempo e as pessoas não têm mais tempo para nada, vivem correndo contra o relógio. Além disso, “tempo é dinheiro”, não é assim que se diz? Se isso é verdade, então para alguém dedicar um pouco do seu tempo a outrem precisa receber em troca algum dinheiro, de certa forma (não sei qual) equivalente ao tempo gasto. Não quero crer que estejam desaparecendo as coisas que não têm preço, como a amizade.

A tradução literal de personal friend para o português seria amigo pessoal, mas isso é outra coisa. Segundo o Aurélio, pessoal pode ser sinônimo de “reservado, particular, íntimo”. Então, considerando essa acepção do adjetivo, amigo pessoal é um amigo íntimo, seriam aqueles para quem o cara do chope não ligou ou que recusaram seu convite.

Ainda estou me perguntando quem aquele japonês convidará para algum almoço de domingo, um aniversário… mas eu acho que já não se fazem almoços de domingo com os parentes.

O Milagre Eucarístico de Siena

junho 16, 2009

Quando contei nossa viagem a Cássia citei o Milagre Eucarístico de Siena, mas não o descrevi. Agora o faço:

O Milagre aconteceu no ano de 1330 e foi testemunhado pelo Beato Simone Fidati, cujos restos mortais se encontram na Basília Inferior de Cássia que também guarda o Milagre. O livrinho que está à disposição dos peregrinos na Basílica conta a história do milagre que traduzo livremente a seguir:

Um Sacerdote, chamado para que levasse a Eucaristia a um enfermo, pôs a Hóstia Consagrada entre as páginas do breviário. Quando o abriu para administrar a Comunhão, viu que a Hóstia tinha-se transformado em sangue e havia impregnado as duas páginas. Turbado com o que havia acontecido, foi confessar-se com o Beato Simone que vivia então em Siena e ao qual entregou o breviário depois de recebida a absolvição.

Uma das páginas, doada pelo Beato ao convento de Perugia, foi objeto de veneração até o período de Napoleão, quando foi perdida. A outra, à qual aderia a Hóstia, o Beato levou a Cássia, onde é venerada desde 1387.

Um detalhe interessante, segundo a hstória narrada pelo livrinho dos peregrinos, é que muitas pessoas notam nas manchas de sangue a figura de um rosto humano com uma expressão de sofrimento e que isso aparece inclusive na impressão fotográfica.

Como já havia dito, não vi nem fotografei o Milagre, mas é possível ver algumas fotos nesse endereço. Ou nesse, em português.

Salve, Santa Rita! (parte II)

junho 15, 2009

Como havia prometido, as fotos do Mosteiro de Santa Rita de Cássia. Naturalmente, não se pode visitar todo o Mosteiro. Há a parte reservada para as monjas de clausura.

Entramos numa sala sem móveis, com uns afrescos nas paredes, inclusive um que retrata Santa Rita bebê, num bercinho. O monge que descrevia o que veríamos na visita nos contou que quando a santa era criança as abelhas costumavam pousar sobre ela, o que preocupava os adultos, mas que a menina nunca foi picada. E acrescentou que há uma tradição segundo a qual uma criança em quem as abelhas pousam sem fazer-lhe mal terá um futuro especial. E quem duvida?

Vamos às fotos:

A videira milagrosa

A videira milagrosa

Segundo a história, quando Santa Rita entrou para o Mosteiro dos Agostinianos, teve, como ato de obediência, que regar todos os dias uma videira seca. E a videira reviveu! Os vinhateiros afirmam que isso é humanamente impossível; foi um dos tantos prodígios que Deus realizou na vida de Santa Rita. A videira vive até hoje e as monjas dão, no locutório do Mosteiro, uns envelopinhos com um pouco do pó dessa videira. Basta tocar a campanhia e pedir.

O tronco da videira

O tronco da videira

 

As rosas de Santa Rita

As rosas de Santa Rita

 

Outra roseira

Outra roseira

 

Mais uma roseira que se agarra nos muros do Mosteiro

Mais uma roseira que se agarra nos muros do Mosteiro

 

Rosas...

Rosas...

 

... e mais rosas!

... e mais rosas!

 

Aliança de Santa Rita

A aliança de Santa Rita

 

Coroa de Santa Rita

A Coroa de Santa Rita

 

Cela onde a santa viveu por 40 anos em oração e penitência e onde morreu

A cela onde a santa viveu por 40 anos em oração e penitência e onde morreu

 

Outra foto da cela

Outra foto da cela

 

Depois de ver sua cela e as lembranças mais significativas da santa, deve-se sair por uma porta que está à esquerda da cela. Diante dessa porta, uma imagem de Santa Rita no meio de suas rosas.

Roseiral de Santa Rita

Roseiral de Santa Rita

 

Para quem pensou que não havia mais rosas...

Para quem pensou que não havia mais rosas...

 A parte do Mosteiro que se pode visitar é bem pequena: depois daquela sala inicial da qual falei, se sai por uma porta embaixo da videira, sobem-se alguns degraus, passa-se por um corredor que conduz a uma sala da qual se vê, sempre através de uma grade, as lembranças de Santa Rita e sua cela. Então se sai por uma porta diante da qual se vê a imagem da santa no meio de muitas rosas (aquela com a legenda “Roseiral de Santa Rita”), descem-se alguns degraus e se chega novamente ao vestíbulo do Mosteiro. Mas apesar de ser pequeno o ambiente aberto à visitação, é imensa a atmosfera de santidade que se respira ali dentro! É impossível não escutar o chamado e não sentir o desejo de também ser santos.

Salve, Santa Rita!

junho 14, 2009
A festa era de Santo Antônio, mas eu tenho certeza de que ele não ficou com ciúmes por termos ido visitar Santa Rita. Afinal, eles com certeza são amigos e batem altos papos lá no céu. Têm muito em comum: Santa Rita é conhecida como a Santa das causas impossíveis e é a Santo Antônio que as moças recorrem quando querem encontrar um bom marido (desculpem, rapazes, mas eu sou do tipo que “perde o amigo, mas não perde a piada”…).

Essa era uma viagem que estava programada desde o mês de maio, mas não tinha dado certo. Então, sexta-feira à noite Claudio me perguntou se queria ir a Cássia no dia seguinte. É claro que eu aceitei. Saímos de Roma mais ou menos às nove e meia da manhã e depois de 200km de estrada e uns quinze minutos presos num engarrafamento (é tradição!) chegamos à cidade de Santa Rita.

Fomos direto ao Santuário. Na Basília Superior está o corpo da Santa e na Basília Inferior o milagre eucarístico que aconteceu em Siena em 1330 e que eu não pude ver nem fotografar, porque quando entrei na Basílica estava começando o Ofício das Vésperas e seria uma falta de respeito ficar caminhando e fotografando… Ficou para a próxima viagem, se Deus quiser.

No final da tarde conseguimos entrar no Mosteiro, que está ao lado da Basílica Superior, no qual Santa Rita viveu. Ali vimos a videira milagrosa, as rosas de Santa Rita, sua aliança, sua coroa, sua primeira urna funerária e a cela onde viveu e morreu. Foi uma experiência maravilhosa.

Tirei algumas fotos. Veja abaixo.

Fachada da Basílica Superior dedicada a Santa Rita de Cássia

Fachada da Basílica Superior dedicada a Santa Rita de Cássia

 

Altar-mor da Basília de Santa Rita de Cássia

Altar-mor da Basílica de Santa Rita de Cássia

 

Parte central da cúpula da Basílica

Parte central da cúpula da Basílica

 

Capela onde está depositado o verdadeiro corpo de Santa Rita, à esquerda do altar principal

Visão geral da Capela onde está depositado o verdadeiro corpo de Santa Rita, à esquerda do altar principal

A seguir, uma foto da urna na qual está o corpo da Santa. Tirei a foto por um dos buracos da grade de ferro que protege a clausura monástica. É o mais próximo que se pode chegar do corpo de Santa Rita, exceto no período da Novena Solene, de 12 a 20 de maio, depois da Celebração Eucarística das 18h, quando os peregrinos podem saudar mais de perto o corpo da Santa das causas difíceis.

Urna onde está o corpo de Santa Rita

Urna onde está o corpo de Santa Rita

 

No próximo post, as fotos do mosteiro…

Mauro Shampoo, o craque do pior time do mundo

setembro 20, 2008

Falar do melhor futebol do mundo todo mundo fala; basta descrever qualquer time de várzea, formado por meninos descalços que, com uma bola improvisada, executam com maestria aquele balé conhecido como futebol brasileiro.

Mas encontrar o pior time do mundo, e mais, encontrá-lo no Brasil, exige pesquisa séria da qual vi o resultado. Trata-se do documentário Mauro Shampoo – Jogador, Cabeleireiro e Homem, exibido no Porta Curtas.

Divertido, emocionante, forte, autêntico, assim é Mauro Shampoo, craque do Ibis Sport Club, que entrou para o Guiness como o time que mais perdeu no futebol mundial. Igualmente divertido e emocionante é o curta de Leonardo Cunha Lima e Paulo Henrique Fontenelle.

Vale a pena assistir! Depois me digam se eu não tinha razão…

Todas as estradas nos afastam de Roma

maio 20, 2008

Para quem não conhece Roma, a cidade é circundada por uma auto-estrada tangencial, sem pedágio, chamada de “Grande Raccordo Anulare” (GRA) ou simplesmene “Raccordo”, como dizem os romanos. É um verdadeiro círculo (por isso anular) ao redor da cidade, com várias saídas por todo o percurso, nas quais é possível dirigir-se para o centro da cidade ou para fora do anel. É uma coisa cômoda, se levarmos em consideração que Roma tem um dos trânsitos mais caóticos do mundo e atravessar a cidade de carro é tarefa quase impossível, principalmente em certas horas dos dias feriais.

Dito isso, vamos aos fatos.

Claudio já me disse muitas vezes que gosta muito de dirigir. Talvez por isso (inconscientemente) erre a estrada para ficar mais tempo dentro do carro. Vai-se saber! Quem é que pode afirmar que conhece a tão complicada mente humana? O fato é que já é um clássico: todas as vezes que viajamos de carro, não importa se é uma viagem de centenas de quilômetros ou um giro dentro dos limites do Grande Raccordo Anulare, nós nos perdemos.

Da última vez (na verdade, penúltima, porque antes que eu publicasse o post aconteceu de novo, mas já tinha me decidido a contar esse episódio… risos) tínhamos ido visitar um médico amigo dele que trabalha no leste da cidade (nós moramos no sul). Na volta pra casa, no final da tarde, Claudio pegou uma estrada que nos levaria para o Raccordo a fim de evitar o tráfego do centro da cidade e, quando percebeu, estávamos diante dos guichês de uma auto-estrada que conduzia, naturalmente, para longe de Roma. Então ele diminuiu a velocidade, mas ficou alguns segundos sem saber o que fazer. Nesse meio tempo eu vi a indicação para uma cidade chamada Lunghezza e disse:

– Por que você não sai da estrada, fazendo de conta que vai pra Lunghezza, depois faz o retorno, pega a estrada de novo e volta pra Roma?

E ele, começando a rir:

– É o jeito, lá vou eu pagar a auto-estrada. Eu pago, pago, pago e ela ri, ri, ri…

Porque, verdade seja dita, eu me divirto e rio até as lágrimas nessas situações. Depois fico fazendo piada com a cara dele pelo menos por um mês.

Fizemos como eu tinha dito: ele pagou o pedágio de € 1,10 (sorte dele que era pouco, mas já pensou quanto dá no final de um mês?), saiu da estrada, fez o retorno, pagou de novo o pedágio (e eu rindo) e nós voltamos pra casa.

Durante todo o trajeto fizemos piadas com essa história. Eu disse que até o nome da cidade onde fomos parar era perfeito, afinal pra alongar o caminho quer melhor direção que Lunghezza? E ele me respondeu:

– Claro, senão a cidade deveria se chamar “Cortezza”.

Eu ria mais ainda porque quando começamos o trajeto de volta e vi que ele estava fazendo uma estrada diferente daquela que tínhamos feito na ida, disse pra ele prestar atenção e não errar de novo (eu preciso dizer que ele errou a estrada na ida? Parece mentira, mas não estou inventando nem aumentando nada…). Quando mencionei essa observação que tinha feito, ele disse que tinha se distraído conversando comigo, que estava todo relaxado batendo papo e não viu a indicação para o Raccordo. Mais uma prova de que os homens não conseguem fazer duas coisas ao mesmo tempo, enquanto nós mulheres… mas isso é outra história.

Bem, é por essas e outras que aquele ditado precisa ser mudado ou pelo menos atualizado: “Todas as estradas levam a Roma”? Pode até ser, desde que não seja com Claudio ao volante.

Caso português

maio 10, 2008

Não, esse título não é um erro gráfico, eu não pretendia escrever a “casa portuguesa”, canção que lembra minha infância, embora naquele tempo nós não tivéssemos muita chance de ouvir música – tínhamos apenas um rádio, herança paterna e que um dia meu irmão mais novo desmontou “pra ver como era por dentro”.

Devo afirmar ainda que esse é um caso verídico, não sou muito afeita a contar piadas de português, não por falso moralismo, é que não me agrada ouvir, entre estrangeiros, piadas de brasileiro, ou entre sulistas as famigeradas piadas de nordestino, de baiano…

Enfim, esse caso se deu quando eu viajava pela primeira vez do Brasil para a Itália com uma escala em Lisboa. Estava curiosa pra ver ainda que fosse uma pequena mostra daquele país de que tantas vezes ouvimos falar nas aulas de história. Desejava ver mais de perto alguns portugueses e descobrir afinal sua inteligência pra desmentir todas as piadas que ouvisse de volta pra casa. Tínhamos pelo menos duas horas de espera até o prósimo vôo com destino a Milão, e eu considerei que era tempo suficiente para essa pesquisa, que não era afinal tão científica assim.

Nossa primeira dificuldade no aeroporto foi encontrar um banheiro. Esqueci de dizer que não estava sozinha, viajava com quatro amigas (sei de alguém que vai dizer que esse esquecimento é ainda orgulho, que preciso trabalhar a humildade…). Pois bem, depois de arrastar nossa bagagem de mão por quase todo o aeroporto, encontramos o banheiro e nos pusemos mais apresentáveis para nossa excursão possível ao que se nos apresentava do velho Portugal.

Uma de minhas amigas já havia ficado encantada com o policial com quem falou no desembarque. Ele, enquanto olhava seu passaporte, aproveitou para fazer-lhe uma pequena entrevista que não era exatamente o que se espera responder num aeroporto… Ela saiu rindo e dizendo que Joaquim era um nome muito bonito. Nós rimos muito das besteiras que ela dizia e dissemos que não se esquecesse de que nós estávamos fora do Brasil, mas que todo mundo ali falava a mesma língua. E recomendamos muito cuidado com os micos – essa minha amiga tem pós-doutorado em micos, mas esta é outra história…

Andamos pelas lojas observando roupas, acessórios, perguntando o preço de tudo e não comprando nada, que afinal um euro estava valendo três reais, não dava pra sair comprando assim. Mas até aí eu achava tudo normal, exceto alguns itens do vestuário feminino expostos nas vitrines das lojas e que eu achei um tanto exagerados nas cores e detalhes chamativos.

Afinal, depois de andar à toa por um bom tempo, decidimos nos sentar numa sala de espera porque não era lá muito agradável ficar andando com aquela bagagem. Mas isso também não foi uma idéia muito boa: a sala tinha um forte cheiro de cigarro e, embora eu não tenha nada contra os fumantes, afinal cada um tem o direito de se maltratar como quiser, eu não suporto cheiro de cigarro nem me agrada a idéia de ficar intoxicando meu corpo. Procurei a área de não fumantes e não encontrei. Então estudei cuidadosamente a sala em todas as direções, porque era bem espaçosa, e como não encontrava mesmo uma área reservada para não fumantes, resolvi me informar com uma das moças que trabalhavam por ali.

Fui em direção ao balcão ainda muito hesitante, porque havia visto muitas placas indicando “zona de fumadores” e muitos cinzeiros espalhados pela sala. Em cada canto da sala havia uma placa daquelas, mas não havia nenhuma de “não fumadores”. Pensei que poderíamos estar na sala errada, mas mudei de idéia por causa das placas. Se fosse uma sala só de fumantes, eles teriam posto o aviso “sala de fumadores” ou algo parecido na entrada e não tantos cartazes espalhados ao redor da sala. Então criei coragem e perguntei à moça que me pareceu a mais simpática:

– Por favor, onde é a área de não fumantes?

Ao que ela me respondeu com um “Ahn?” e uma careta de quem não entendeu bulhufas. Resolvi traduzir:

– Por favor, onde é a “zona de não fumadores”?

“Ah, que vergonha”, pensei ao ver sua expressão. Ela me fez uma cara de quem não acreditava no que eu havia perguntado e me respondeu simplesmente:

– Em todos os lugares onde não há a indicação de zona de fumadores…

Como se aquilo fosse a coisa mais lógica do mundo.