Personal friend e por que não posso traduzir o termo para “amigo pessoal”

Depois do personal trainer e do personal stilist, a novidade agora é o personal friend. Segundo o site da revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios, esse é um novo negócio que está surgindo no Brasil, semelhante ao realizado por uma agência japonesa.

Lá na terra do sol nascente, diz outra notícia da mesma revista, um dos agentes da empresa Office Agents vai a festas de casamentos como se fosse um convidado normal, um parente ou amigo, por cerca de R$ 400,00. “Se o agente tiver que cantar ou dançar custa mais R$ 100,00”, continua.

A recessão econômica aumentou ainda mais a popularidade do serviço. Com o desemprego e os trabalhos de meio período aumentando, pessoas têm alugado falsos chefes e colegas de trabalho para ir a festas de casamento. O objetivo? Manter o respeito perante os amigos, segundo Hiroshi Mizutani, que comanda a Office Agents.

O presidente da empresa contou inclusive a história de um noivo que alugou secretamente 30 convidados para fazer o papel de amigos e parentes. Isso porque era seu segundo casamento e ele não queria repetir os convidados da primeira cerimônia.

No Brasil a sessão custa de 50 a 300 reais e o personal friend acompanha o cliente aonde esse desejar, desde shoppings a cinemas, restaurantes ou caminhadas. É claro que, além do preço da sessão, o cliente deve bancar qualquer outra despesa. Um dos profissionais brasileiros conta: “Um dia um cliente me ligou dizendo que estava querendo alguém para tomar um chope”. Pagou R$ 300 para tagarelar com o personal friend por 50 minutos numa mesa de bar.

Onde foram parar aqueles amigos que adorariam tomar um chopinho jogando conversa fora?

É tudo muito estranho! Para mim, o mundo enloqueceu e eu não quero, como diz aquela famosa frase feita, “tornar-me louca para ser sensata”. Prefiro ser louca, ingênua, antiquada, o que for. Mas eu ainda acredito naquele tipo de amizade livre e desinteressada, naquele tipo de amigo que até se ofende quando se fala em dinheiro com ele. Aquele amigo que pode lhe telefonar a qualquer hora sem motivo aparente ou aparecer na sua casa sem ter de telefonar antes para avisar que vem. Em suma, aquele amigo de antigamente.

Só que construir uma amizade assim leva tempo e as pessoas não têm mais tempo para nada, vivem correndo contra o relógio. Além disso, “tempo é dinheiro”, não é assim que se diz? Se isso é verdade, então para alguém dedicar um pouco do seu tempo a outrem precisa receber em troca algum dinheiro, de certa forma (não sei qual) equivalente ao tempo gasto. Não quero crer que estejam desaparecendo as coisas que não têm preço, como a amizade.

A tradução literal de personal friend para o português seria amigo pessoal, mas isso é outra coisa. Segundo o Aurélio, pessoal pode ser sinônimo de “reservado, particular, íntimo”. Então, considerando essa acepção do adjetivo, amigo pessoal é um amigo íntimo, seriam aqueles para quem o cara do chope não ligou ou que recusaram seu convite.

Ainda estou me perguntando quem aquele japonês convidará para algum almoço de domingo, um aniversário… mas eu acho que já não se fazem almoços de domingo com os parentes.

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