Archive for julho \31\+02:00 2008

Ainda Rosa

julho 31, 2008

Cada vez que eu leio o Grande sertão eu descubro uma coisa que me fascina…

Gosto tanto desta reflexão de Riobaldo que não consigo achar nenhum adjetivo adequado para caracterizá-lo.

Refiro ao senhor: um outro doutor, doutor rapaz, que explorava as pedras turmalinas no vale do Arassuaí, discorreu me dizendo que a vida da gente encarna e reencarna, por progresso próprio, mas que Deus não há. Estremeço. Como não ter Deus?! Com Deus existindo, tudo dá esperança: sempre um milagre é possível, o mundo se resolve. Mas, se não tem Deus, há de a gente perdidos no vai-vem, e a vida é burra. É o aberto perigo das grandes e pequenas horas, não se podendo facilitar – é todos contra os acasos. Tendo Deus, é menos grave se descuidar um pouquinho, pois, no fim dá certo. Mas, se não tem Deus, então, a gente não tem licença de coisa nenhuma! Porque existe dôr.

Quando estava concluindo o curso de Teologia na diocese de Caetité, usei-o como epígrafe do meu trabalho final e foi um sucesso. A pesquisa que fiz foi sobre “A experiência de fé na pós-modernidade”.

Eu

julho 29, 2008

Eu sou a chuva fina e insistente
Que, embora sob o sol da primavera,
Jamais percebe o fim que a espera
E cuida que é capaz de ir em frente.

Eu sou no céu da noite astro cadente,
Eu sou no velho muro musgo e hera,
Sou a desconhecida que me espera
Na esquina do futuro e que nem sente

Da vida, a fuga lenta e inexorável,
Da morte, o medo gélido e mudo,
De tudo, o despropósito sem fim.

Naquela esquina, a estranha, imperturbável,
Jamais se incomodou em tirar de mim
A dor de não ser nada e de ser tudo.

Compadre meu Guimarães

julho 24, 2008

Quem me conhece pessoalmente, assim como quem acompanhou o nascimento desse blog, sabe que Guimarães Rosa é o meu escritor preferido. E para mostrar que não estou sozinha, cito um depoimento de Sérgio Buarque de Holanda que se encontra na primeira orelha de Ave, Palavra, edição de 1970 (ao transcrever, quis respeitar a grafia de então):

Tenho mêdo de tentar comparações. Não direi, por isso, que a obra de Guimarães Rosa é a maior da literatura brasileira de todos os tempos. Direi porém que nenhuma outra, de nenhum escritor, me deu até hoje, entre brasileiros, a mesma idéia de tratar-se de criação absolutamente genial.

Comecei essa prosa acerca de Rosa só como pré-texto para publicar aqui alguns fragmentos de textos seus que não me canso de reler. Quem também é fã como eu pode aproveitar pra saborear de novo suas palavras e quem ainda não é tem a oportunidade de (re)começar a viajar no mundo rosiano…

  1.  “Mulheres passadas é que movem amores. Tira o sentido disso, Policarpo. Refresca teu coração. Sofre, sofre, depressa, que é para as alegrias novas poderem vir…” (O grande samba disperso)
  2. “Tudo se acabou tanto, que nem houve. Foi só um engano.” (idem)
  3. “Ajuda-te um pouco menos, para Deus poder te ajudar!” (Quemadmodum)

 Todos esses fragmentos são de textos de Ave, palavra. Que foi o presente póstumo de Rosa pelo meu nascimento.

G8 fala em reduzir emissões pela metade até 2050

julho 9, 2008

Em comunicado oficial divulgado no Japão os líderes do Grupo dos Oito “anunciaram nesta terça feira que trabalharão na direção de uma meta de pelo menos reduzir pela metade a emissão global de gases do efeito estufa até 2050“.

Além disso, segundo a notícia, eles também concordaram em estabelecer metas intermediárias anteriores a 2050, mas sem estabelecer números.

Claro! Quanto mais longo o prazo, melhor. E, para aqueles mais próximos, se não há um valor estipulado qualquer pequena mudança é lucro, certo? E cada um continua poluindo como quiser…

O mais interessante, porém, ainda está por vir:

o apelo aos países que participam das negociações sobre mudança climática na Organização das Nações Unidas (ONU) para que também “considerem e adotem” as metas para 2050 satisfez os Estados Unidos, que afirmaram não poder concordar com metas obrigatórias a não ser que grandes poluidores como China e Índia também cortem suas emissões.

Eu já vi essa cena muitas vezes, você não? “Eu só como a salada se Fulano (o irmãozinho) também comer!”, “Pró, você já deixou Joãozinho ir ‘na licença’ duas vezes, então eu também vou!”, “Eu não vou fazer tarefa nenhuma, não tem ninguém fazendo…” “Tá bom, eu leio, mas manda outro ler primeiro!” – a lista de exemplos poderia continuar indefinidamente.

Mais bonitinho do que isso só a foto deles todos reunidos no recreio, aplicando as noções da aula de Ciências…

Líderes do G8 plantam árvores no Japão

julho 8, 2008

Vi hoje uma foto que me deixou comovida: estavam alinhados os líderes do G8 (os sete países mais industrializados do mundo mais a Rússia), cada um com uma pá na mão, plantando uma árvore… Que emocionante! Eles realmente se importam com o meio ambiente!

 Se você observar bem, o quarto da esquerda para a direita (você o reconhece?) está olhando para o colega do seu lado esquerdo, como quem não sabe muito bem o que fazer com aquela pá…

Com suas atitudes cotidianas eles nos incutem a descrença na política (você se lembra, por exemplo, da posição dos Estados Unidos em relação ao Protocolo de Kioto?); mas quando se encontram nessas ocasiões, querem, com meia dúzia de palavras e alguns gestos mal ensaiados, fazer-nos acreditar nas suas boas intenções.

É pra rir ou pra chorar?